Quarto de B

*Uns passos secos ecoaram pelo corredor e foram se aproximando da garota à porta gradativamente. Em poucos minutos, B se encontrava ao lado dela, com uma chave dourada em mãos que parecia se dar perfeitamente com a fechadura da porta que estava à sua frente. Ele olhava Sibelly com sua costumeira expressão inabalável e a voz de Mizori lhe soou à mente quase que de imediato*
"Se uma garota loira aparecer por lá... tente não matá-la..."
*Ele soltou um suspiro quase inaudível e usou a manga da blusa para limpar a chave, que estava sendo contaminada pelo sangue que transcorria entre seus dedos. Tinha acabado de sair do Portão de Runas, após receber instruções da "diretora " e obviamente não teve tempo de se limpar*
— Oi...— disso num tom de voz baixo, ligeiramente desconfiado.— Posso ajudar?

>Ela abriu um largo sorriso, independente de todo o sangue e cara de assassino que ele tinha<

-Olá, vim lhe dar as boas vindas.

*Ele estranhou o cumprimento dela, embora não tivesse deixado isso transparecer. Sibelly parecia ser tão jovem para estar ao menos acostumada com aquele tipo de visão... Logo afastou o pensamento, utilizando o pretexto de que estava num lugar provavelmente destinado a seres das trevas*
— Obrigado.— disse calmamente e esticou o braço, rodando a chave na fechadura e destrancando-a, deixando a porta escancarada.— Quer entrar por um pedacinho?

-Por um pedacinho?

>Ela inclinou a cabeça, colocando um chiclete na boca e mascando-o<

— Um pedacinho de tempo.— corrigiu ele, com um ligeiro ar cético, e andou para dentro do quarto.

-Aahhh, sinto muito...

>Ela entrou logo após dele<

-Qual é o seu nome?

— Está tudo bem...
*A visou momentaneamente de relance*
— Só feche a porta, por favor.
*Retirou a faca que ainda estava presa no elástico de sua calça e a atirou por cima da cama, sem parecer ligar se sujaria o colchão novinho em folha*
— Você pode me chamar de B, Sibelly.

>Ela fechou a porta atrás de si e abriu um timido sorriso<

-Tudo bem... B então... que jeito estranho de chamar alguém?

"Então se surpreenderia se vivesse naquele lugar..."
— Se você diz...
*Depois de ligar o interruptor de luz, ele deu meia volta para se dirigir à pequenina cozinha que ali existia, mas antes lançou mais um olhar sobre a garota*
— Fique à vontade, sim?

-Obrigada, B...

>Quando olhou novamente, ela já estava dependurada nas costas dele e mexendo em seus cabelos.<

-Hei, hei, você esteve com a minha irmã?

*Somente sentiu um peso sobre suas costas e logo depois um afago em seus cabelos. Sabia que era Sibelly, então não se alarmou tanto*
— Não sei... Que é a sua irmã? — indagou, e mesmo com ela nas costas, ele se dirigiu tranquilamente até a cozinha e abriu o refrigerador, parecendo procurar algo pelos bolsos em seguida.

>Ela tirou um pouco do peso e fez um gesto com os dedos que provavelmente este não conseguiria ver.<

-Uma mulher estranha, sinistra, e sem o minimo senso de humor... chama-se Mizori...

*Ele nem precisava ouvir o resto para saber de quem se tratava. O "estranha" e "sinistra" já eram o bastante pare ele definir Mizori, e então, B a respondeu antes que a mesma completasse a frase*
— Sim. Acho que não teria como deixar de encontrá-la, pra ser sincero.
*Finalmente achou o que estava procurando e o retirou do bolso esquerdo frontal. Era um par de belos olhos negros e brilhantes, envolvidos por um barbante quase invisível e tinham os globos sujos de sangue, como se tivessem sido forçados a sair do rosto de alguém*
— Por quê?
*Pôs os globos oculares no refrigerador e o fechou, sem importar-se com a opinião de Sibelly em relação aquilo*

-Não sei, as vezes ela não está por perto quando viajantes novos chegam...

>Ela deu de ombros e olhou efusivamente pelos ombros do mesmo<

-Apenas curiosidade... belos olhos...

— Ah, entendo...
*Olhou uma última vez para os olhos, fechando a porta do refrigerar em seguida*
— São bem bonitos mesmo... Por isso que os escolhi.
*Tentou visar Sibelly por cima dos ombros e conseguiu após virar lentamente o rosto*
— Os seus também são. Eu gostaria de arrancá-los e usá-los num chaveiro ou, quem sabe, numa decoração na parede...
*Levantou um pouco os ombros e foi andando de volta ao quarto*
— Foi um elogio.

-Hum... me soa familiar...

>Se aquela frase faria qualquer um estremeceu, ela não era daquele tipo. Inclinou a cabeça suavemente e sorriu.<

-Obrigada, meu senhor... mas creio que terias problemas com isso...

— Ah, é?
*Ele segurou Sibelly como pôde e pulou para cima da cama, agachando-se sobre o colchão. Sacudiu os ombros, indicando-a para descer e pôs o indicador sobre os lábios*
— Que tipo de problemas?

>Deixou-se cair no colchão e cruzou as pernas, inclinando a cabeça docilmente.<

-Porque, porque, porque... porque não me deixaria capturar tão facilmente...

>Levou um dedo a bochecha<

-E Mizori não ficaria nada feliz...

— Não deixaria você morrer e... Poderia pôr outros olhos. Ninguém iria notar.— ele falava como se aquela hipótese fosse realmente a solução para o problema de arrancar os olhos dela.— A não ser que te pedissem para dizer qual vestido é o mais bonito ou algo do tipo...
*Coçou a nuca, olhando para a garota de esguelha*
— Está aqui há muito tempo, Sibelly?

-Eu acho que notariam sim...

>Ela pareceu ficar imaginando um bom tempo isso antes de continuar.<

-Er... o que tem os vestidos a ver...?

>Coçou a ponta do nariz de modo sutil e pensou mais um pouco.<

-Hum...alguns meses...

— Talvez tenha razão...
*Escorregou o dedo de um lado ao outro por cima dos lábios secos*
— Esqueci, por um momento, de que não estou rodeado por... Hm... Gente da mesma raça que eu. Pelo menos por enquanto. Quero dizer... Não é humana, é?— perguntou a ela, com um ar de curiosidade e os olhos vermelhos fixos nos azuis da garota.— E também, por que não me conta, mais ou menos, como são as coisas por aqui, por favor?

-Depende de que raça você seja, mas apenas por estar nesse chalé já surgem ideias...

>Ela abriu um sorriso maroto.<

-Não exatamente... segredo...

>Levou um dedo em direção a bochecha<

-O que quer saber?